Já dá pra falar de outra coisa?

Entre um ouvido no rádio, um olhar para os portais de notícias e outro para os grupos de WhatsApp, nos deparamos mais uma vez com a angústia de não saber para onde ir. 

A tragédia no Rio Grande do Sul traz de volta o tempo de pandemia e, com ela, a dúvida de como seguir em frente. Enquanto jornalistas e profissionais da comunicação, nosso papel é acompanhar a cobertura e apoiar o jornalismo de verdade, garantindo que os fatos - e não as fakes - cheguem ao outro lado. 

Mas como falar de algo que não seja as enchentes? Quando trazer outro assunto? Será de bom tom retomar qualquer pauta que fuja do drama que o Brasil e o mundo acompanham estarrecidos à distância? 

A ansiedade do nosso tempo não passa longe do mundo corporativo. Assim como as pessoas, as empresas estão aceleradas. Expostas à fragilidade que o cenário traz, parecem ainda mais velozes em querer retornar à normalidade sem levar em conta empatia, profissionalismo, ética e reputação. E nós aqui, tentando puxar o freio de mão. 

Se por um lado nos fazemos necessários para definir o que não fazer agora, por outro lutamos para justificar nossa importância para clientes (e novos clientes), mas com a consciência de que o momento é difícil para todos. E mais uma vez o nosso discurso é o mesmo: a comunicação corporativa, se bem trabalhada de forma estratégica, pode ser uma ferramenta preciosa para a hora da retomada. 

Fazer uma prospecção de novos clientes é uma necessidade, mas o feitiço pode virar contra o feiticeiro. Assim como o timing de outras pautas ainda não chegou, sabemos que a hora de pensar em estratégias de comunicação e marketing para marcas também virá logo mais adiante. 

Enquanto estrategistas, passamos os dias pensando em como contornar mais essa crise. Como virar a chave da tragédia para a chave da reconstrução? Como sair dessa sem, de fato, sair dessa (pauta)? De novo, não dá para ignorar o contexto, mas dá para ficar preparado quando esse momento chegar, porque a gente não vê a hora de falar de outra coisa.

Bianca Carneiro, sócia-gerente da Pauta Conexão e Conteúdo